Estamos vivendo cada vez mais longe da natureza, porém desejando estar cada vez mais próximos à ela na sua forma mais selvagem.
A forma como nossas vidas tem se moldado tem deixado espaços importantes no nosso coração sem ser preenchidos. Essas lacunas podem causar danos irreverssíveis e nos fazer desviar do nosso caminho para a felicidade de forma que nunca mais encontremos o caminho de volta.
A rotina não tem sido fácil e as obrigações e responsabilidades tem nos tomado tanto tempo, que não nos sobra tempo para aproveitar a vida. Tempo que nos engole e não permite nem que pensemos sobre as nossas opções ou possibilidades. Muitas vezes nos faz seguir vivendo. Algumas vezes passando Agosto esperando Setembro chegar e em outras nos apresentando o final do ano sem termos visto o ano passar.
Na busca pela felicidade fácil que está na alegria e na euforia imediata, desafiamos a nós mesmos transformando desejos em metas e desejando o que muitas vezes nem precisamos. Passamos a querer mais, querer melhor, querer agora. A desejar aquilo que não precisamos ou o que não podemos ter.
Desejo é quando a vontade cisma que somos a casa dela e de repente nos faz querer aquilo mais do que qualquer outra coisa. Sem conseguir explicar, entender ou racionalizar, paramos por alguns instantes de pensar.
O coração dispara e a mente nos apresenta somente os beneficios da sensação de satisfação sem qualquer espaço para a culpa. Essa é a armadilha do cérebro, nos mostrando somente o lado bom da realização como se não houvessem consequencias. Porém podem haver consequencias. E elas apresentam a conta! Comprar algo com um preço muito acima daquilo que podemos pagar, causa dívidas. Querer o namorado de alguém ou querer alguém quando se tem um namorado, pode partir corações e causar cicatrizes que podem levar muito tempo para cicatrizar. Comer algo que engorda, pelo prazer de alguns minutos, mesmo sem ter fome. Trocar de emprego porque tem a ilusão de que no outro lugar será tudo perfeito ou trocar a felicidade e a estabilidade por dinheiro. Trocar o papel de pai e mãe em casa pelo de funcionário modelo no trabalho. Trocar uma vida autentica pelo modelo tido como padrão na sociedade. No universo onde convivem o desejo, as aparencias e a culpa precisamos entender quais as consequencias de nossas realizações e escolhas, por mais proibidas ou insensatas que elas sejam, para ser feliz sem culpa. Para ser feliz de verdade.
E desejo satisfeito só é realmente bom quando vem sem culpa.
A culpa acontece quando cismamos com algo que não poderíamos ter ou algo que não deveríamos fazer.
Desde pequenos gostamos do desafio. O não sempre foi mais desafiador e nos fez buscar as coisas com mais paixão. A curiosidade é alimentada pela dúvida e pela imaginação, e por isso faz crescer a vontade.
Ah a imaginação! Ela é a grande culpada! Ela faz o cerebro parar de pensar e projetar somente a euforia que chega com um desejo realizado. A imaginação faz o cerebro ponderar sobre como a vida é curta, nos colocando a questão sobre ser melhor se arrepender do que fizemos do que de não ter feito, sobre o fato de trabalharmos muito e merecermos uma extravagancia, e assim nos faz seguir buscando motivos para transformar o desejo em realidade, justificando o querer mesmo quando não precisamos.
Não importa a rota de fuga. Podemos seguir dando tablets para nossos filhos pequenos para termos minutos de sossego ou escolher relaxar através de brincadeiras com eles. Podemos escolher passar horas pintando livros de colorir ou com qualquer outra atividade que nos dê prazer para aquietar a nossa mente e alegrar o coração. Podemos seguir acumulando coisas de que não precisamos ou fazendo algo proibido que nos desafia, contanto que isso não nos traga culpa, contanto que não seja errado com a gente mesmo e nem com o outro. Contanto que não nos cause danos e nos traga uma satisfação verdadeira.
Deveríamos olhar mais para o essencial, que geralmente esta no lugar comum, totalmente acessível e presente na felicidade despretensiosa e nas coisas simples da vida. Como prestar atenção no que podemos sentir e sermos gratos por isso. Imortalizar momentos especiais os tornando inesquecíveis. Pensar sobre os exitos que tivemos quando tudo poderia ter dado errado. Valorizar o fato de estarmos vivos. Se doar verdadeiramente para o outro, escutando de fato o que ele diz. Estar nas relações que escolhemos ter. Aprender com os nossos erros para que eles nos façam pessoas melhores no futuro, porque isso afasta o sofrimento e faz de alguma forma o erro ter valido a pena. Ponderar sobre os ganhos e as perdas. Satisfazer nossas vontades, sentir o sabor das coisas, parar por um instante para não fazer nada. Não demorar onde não somos felizes. Sermos pacientes quando estamos aprendendo algo novo. Perdoar com todo o nosso coração. Lutar somente por aquilo que realmente precisamos. Fazer a vida vale à pena. Rever os planos e os objetivos, se necessario, mas nunca deixar de aproveitar o caminho.
Quando paramos de precisar do que não precisamos conseguimos finalmente fazer o coração reconhecer o caminho para sermos realmente felizes. Porque o caminho sempre esteve ali, nós é que estávamos ocupados demais para enxergar.