Tudo na minha vida aconteceu muito cedo. Cresci muito cedo… Perdi meu pai, me tornei mãe, comecei a trabalhar, fiz faculdade, tudo muito cedo. Era tudo meio fora de hora e acontecendo ao mesmo tempo. Acho que por isso, ter o controle sobre tudo passou a ser essencial para que minha vida tivesse ordem.
Pulei a adolescencia e acabei tendo namoros longos, que pareciam eternos para uma menina de 21 anos. Tudo muito planejado. O plano era começar a trabalhar efetivada antes de terminar a faculdade, porque eu precisava ser bem sucedida. Também tinha pressa em formar uma familia porque eu tinha uma espécie de dívida com o meu filho.
Tudo ia muito bem. Efetivada, namorando, carreira promissora. Enfim, tudo sob controle. Até o dia em que beijei meu chefe! Eu, toda certinha, tinha beijado o meu chefe e não fazia a menor ideia do que faria com isso no dia seguinte. Nada poderia me gerar maior angustia. Para minha surpresa, nada mudou. Exceto meu namoro, que terminou. Dormi feliz, fui trabalhar feliz. Nos tornamos grandes amigos. Há anos não nos vemos ou nos falamos, mas sou muito grata a ele por ter me feito perder o controle daquela maneira. Foi a minha chance de viver, pelo menos um pouquinho, a minha adolescencia roubada.
Quando eu tinha 24 anos, resolvi que precisava experimentar uma nova carreira. Não me via trabalhando para o resto da minha vida em um banco e sempre tinha sonhado em trabalhar em uma agencia de publicidade. Pedi demissão para tentar um novo emprego. Não foi exatamente perda de controle, mas uma saída de minha zona de conforto. Consegui! E a partir desse primeiro emprego, trabalhei em mais 2 agências. Até que joguei tudo para o alto de novo. Dessa vez, foi uma total perda de controle. Aos 30 anos, abandonei um cargo de diretora de contas e aceitei rebaixar em três vezes o meu salário só para poder trabalhar com cosmeticos, que era o meu maior desejo. Poderia ter dado tudo errado. Eu poderia ter ficado anos ganhando um salario ruim. Afinal, nessas empresas gigantes as coisas acontecem muito mais devagar. O ponto é que mesmo sabendo de tudo isso eu perdi totalmente o controle e isso me trouxe muito feliz até aqui. Eu sou completamente apaixonada pelo que eu faço. Muito mais feliz do que eu poderia sonhar.
No dia do meu casamento choveu. Muito! A cidade ficou caotica. O transito quase impediu as pessoas de chegarem na igreja. Era Deus ali falando: Menina, você nunca vai conseguir controlar tudo. Muito menos o tempo ou a temperatura. Por isso, na dúvida, é sempre melhor ter um guarda-chuva no carro.
Minha lua de mel foi em lugar paradisiaco, meu vestido de noiva me fez parecer uma princesa (com coroa e tudo), na festa de casamento tinham orquideas nas mesas e champagne do bom. Foi um disparate, que adiou algumas conquistas na minha vida. Muito maiores que a falta de controle, são os disparates. E como eles fazem bem de vez quando! Nesse dia, no meu vestido de princesa, cheguei o mais perto de flutuar na vida e a insanidade que me levou para um lugar paradisíaco fez total sentido no momento em que chorei de emoção e gratidão ao olhar aquele mar tão azul, tão bonito, tão indescritível.
Tive alguns momentos de total perda de controle muito bem planejados por mim, outros nem tanto.
Na minha segunda gravidez, que passei 2 anos planejando, ao contrario da primeira que não foi nada planejada, também saiu tudo do controle. Engravidei de gêmeos, o que demandaria mudar de casa, de carro, parar de trabalhar antes do nascimento
dos bebes, enfim nada como o planejado. Às vezes as coisas acontecem de uma forma tão inesperada que ficam claros os recados de Deus. Não podemos controlar tudo! Me sinto a pessoa mais abençoada do mundo, mas passei 1 ano da minha tentando por ordem ao caos.
Em alguns dias eu perco completamente o controle sobre a ordem e a organização da casa. Sobre a quantidade de calorias que eu como ou minha mania de organização. Nesses dias, como coisas deliciosas, brinco com os meus filhos, cozinho para os meus amigos, durmo tarde. O caos em volta até gera um certo desespero, mas também traz uma sensação enorme de felicidade.
Às vezes, eu tenho vontade de jogar tudo para o alto, mas a simples ideia de ter que juntar tudo depois me dá arrepios. Para lidar com as consequencias de juntar os cacos precisamos estar muito certos dos riscos. Pelo menos eu preciso!
Já tive provas suficientes de que nem sempre terei o controle, nem sempre terei as respostas ou certezas. E que isso pode não ser nem um pouco ruim. Porque já fui muitas vezes supreendida com a felicidade trazida pelo acaso.
E por isso digo: ainda bem que perdi tantas vezes o controle. Ainda bem que tive o meu bebe tão nova, que mudei minha carreira aos 30 anos, que joguei para o alto minha estabilidade, que beijei meu chefe, que deixei os meus filhos e os meus amigos bagunçarem minha casa, que estourei o limite do meu cartão de credito em uma viagem inesquecível.
Perdi o controle! Joguei tudo para o alto, juntei os cacos. Comecei de novo. Experimentei o lado doce da vida. Me perdi. Me achei. Me apaixonei. Mudei. Comprovei que Clarice Lispector estava certa quando disse que se perder também é caminho. Aprendi que novas portas só podem ser abertas com novos caminhos. Aprendi que é muito bom ter uma vida planejada com tudo no lugar, mas que com a falta de controle e o inesperado também vem a alegria e a felicidade despretensiosa. Aprendi que às vezes é preciso arriscar, e superar o medo. Aprendi que nas grandes alturas estão as mais bonitas paisagens, mas que para ve-las precisamos subir as escadas. Aprendi que a felicidade é paciente, mas que também pode cansar de esperar.
Na busca da minha felicidade, os caminhos nunca foram obvios e geralmente foram nas portas novas onde esses caminhos me levaram em que me encontrei.
Muitas vezes para construir algo novo precisei ter as mãos livres e para isso precisei jogar tudo para o alto. E só joguei tudo para o alto no dia em que perdi o controle.