Comprei um sapato novo, lindo, um pouco caro, um Sarah Chofakian, feito à mão. Estreei meu sapato feliz da vida, tomando aquele super cuidado básico que temos com sapato novo. No dia seguinte à estréia, para a minha surpresa, encontrei meu sapato no canto do quarto com uma chuteira do meu marido, velha, suja, com lama, em cima dele. Em cima do meu pobre sapatinho, feito à mão, novinho. Queria matar a pessoa que trabalha em casa e de repente me dei conta que ela teve a melhor intenção do mundo ao concentrar os sapatos e diminuir a bagunça. Para ela, esse é só mais um sapato, porque ela não conhece a marca, nem a história do sapato. Ela não tem repertório para pensar em ter um cuidado maior com esse sapato.
Às vezes eu reclamava com o meu marido que faltava glamour na nossa vida. Que faltavam declarações de amor e surpresas da parte dele. Até o dia que me dei conta que ele não assistiu todos os filmes água com açúcar que eu assisti. Que ele não foi educado assistindo desenhos de contos de fadas, como eu. Que ele não tem todo dinheiro que os príncipes dos desenhos tem. Que todos os homens tem um padrão meio parecido nesse quesito e que o jeito que ele tem de demonstrar o seu amor era diferente do que eu esperava, mas era amor igual. Ele não tinha o repertório do amor perfeito de cinema, mas isso não fazia do seu amor menor. Sob essa nova perspectiva, nossa vida passou a ser bem mais interessante. Ele passou a ser muito mais interessante aos meus olhos.
Quando gerenciamos equipes, convivemos com vários perfis. Diferentes entregas, diferentes sonhos, diferentes renúncias, diferentes formas de pensar. Mas é comum compararmos e esperarmos de todos, um comportamento semelhante aquele da pessoa que julgamos ser a melhor da equipe. Aquela que faz rápido e com qualidade. Nem todo mundo é rápido, nem todo mundo coloca o trabalho em primeiro lugar. E tem mais, tem gente que não tem ambição, que esta feliz onde esta. E essa mistura deveria ser boa! Times com diferentes perfis tendem a ser os melhores, mas não conseguimos enxergar, porque estamos tentando montar um exército de robôs, cheio de gente igual, mas que tem essências e objetivos diferentes. Bom, claro que isso nunca pode dar certo. Não da para pedir para uma pessoa que é boa com processos, não seguir um processo para poder dar asas à sua imaginação. Pedir esse tipo de coisa para ela é implorar para cair seu rendimento e sua motivação. Não podemos esperar que uma pessoa extremamente conservadora esteja sempre super aberta ao novo e arriscado. Precisamos entender que nem sempre a idéia que faz mais sentido é a nossa, mesmo tendo certeza que ela é a melhor idéia (para a gente, a nossa é sempre a melhor idéia). Precisamos aprender por quais idéias vamos brigar, quais brigas vamos comprar. Precisamos aprender a ceder.
Uma pessoa que não se importa com as roupas que veste ou que usa decotes e roupas apertadas, nunca vai se vestir da maneira que você espera que ela se vista. Simplesmente porque ela não é você! Ela é ela!
Não dá para cobrarmos etiqueta à mesa, de quem nunca foi preparado para isso. Cabe ao nosso bom senso conhecer bem nossos convidados e saber quantos garfos servir à mesa e não criticar um convidado que eventualmente não saiba o que fazer com tantos garfos.
Uma pessoa com mais tempo de vida, provavelmente será mais sábia que alguém mais jovem. Provavelmente…
Se estamos aborrecidos com alguém, precisamos dar visibilidade disso e não partir do ponto que a pessoa vai perceber e fazer algo a respeito. Precisamos ter atitude para cuidar de nossas relações ao invés de ficar esperando que uma mágica aconteça e corações se sintonizem na mesma vibração. Não podemos esperar que a distância entre os corações fique tão grande, que podemos não encontrar mais o caminho de volta. Precisamos conversar mais. Se interessar verdadeiramente pelo outro.
Não podemos esperar de nossos filhos, que eles andem, falem, corram, interajam de acordo com o padrão de outras crianças da mesma idade. Porque é fato que cada um tem seu tempo. Não podemos esperar as mesmas notas na escola. Não podemos esperar uma decisão madura sobre escolha de carreira ou a escolha de uma carreira que a gente aprove. Precisamos respeitar o tempo deles, celebrar as conquistas, apoiar as escolhas, direcionar os desejos, ajudar a escolher os caminhos. A decisão em si nunca é nossa. O que faz todo o sentido, porque a vida não é nossa. A vida é de nossos filhos, que temos que educar com o melhor temos, para que eles sejam o melhor que puderem, mas principalmente, para que eles sejam felizes.
Ninguém dá aquilo que não tem. Principalmente quando o que você espera do outro, são suas próprias expectativas. Gerenciar expectativas é um passo importante para uma vida mais feliz. Respeitar o outro é um passo importante para estabelecer relações saudáveis. Dar espaço para o novo, faz nossa vida mais colorida e mais cheia de vida, nos enche de novas possibilidades.
No final, gerenciar expectativas, além de nos fazer pessoas mais felizes, nos torna pessoas cada vez mais interessantes aos olhos do mundo, mas principalmente, aos nossos próprios olhos.