Histórias de Amor

Capítulo 1 – Novas receitas, novas aventuras.

“Amar é conceder ao outro a última fatia de torta.”

De Olivia para quem passar em frente à sua padaria

O céu estava cor de rosa, devido ao nascer do sol. As ruas da Vila Madalena começavam a ficar movimentadas, sendo ocupadas pelas pessoas que iniciavam sua rotina de trabalho com suas cabeças lotadas de pensamentos e seus passos apressados. O entorno estava poético naquela manhã quente de primavera e Olivia caminhou até sua padaria refletindo sobre sua vida. Ela ia fazer 35 anos e sua vida amorosa era um fiasco total. Seu último namorado tinha se apaixonado pelo seu melhor amigo e ela perdeu os dois de uma única vez. Desde então, ou seja, há seis meses, ela mal tinha beijado na boca. Na verdade, ela não tinha beijado uma única vez na boca. A única coisa boa, nesse tempo de total solidão, foi o fato dela ter conseguido se dedicar aos seus negócios e ao aprimoramento de sua massa de pão com fermentação natural, com gosto de azeite de oliva, que vinha se tornando um fenômeno e ganhando fãs de todos os cantos da cidade. Desde que sua padaria fora citada em um famoso programa de televisão com dicas de lugares descolados em São Paulo, seu espaço minúsculo, mas super charmoso, vivia lotado de gente, que vinha para a Vila Madalena, de todas as partes da cidade, para comer seu misto quente em seu pão especial e levar seus pães leves e deliciosos para viagem. O lugar era encantador e era frequentado por pessoas que se tratavam por seus nomes e na sua maioria, eram artistas, influenciadores, criadores de conteúdo, cineastas e fotógrafos.

– Bom dia, Matheus! – ela disse ao entrar no pequeno espaço que estava perfumado pelo pão assando. – Esse pão está muito perfumado. Estou quase comendo novamente. Abriu meu apetite. Tenho que começar a tomar café da manhã aqui na padaria.

– Bom dia, Olie! Essa receita está genial. O telefone já começou a tocar. Você precisa pensar em expandir essa cozinha e começar a produzir uma quantidade maior. Estamos perdendo dinheiro. – disse o cozinheiro, responsável pela produção de todos os itens vendidos na padaria. – E esse salão também. Temos só uma mesa.

– Nossa expansão será lá para cima. – ela disse apontando para o segundo andar da casa. Ela ocupava a parte de baixo do imóvel, que era acessível à parte de cima através de uma escada externa, onde funcionava um bar, que só abria a noite. O sonho da vida dela, era conseguir alugar o espaço de cima e fazer uma pizzaria com sua receita de massa especial, utilizando parte do espaço para atender a alta demanda da padaria durante o dia. Ela já tinha o projeto, o cardápio, o nome, a identidade visual, a carta de vinhos e até a playlist, mas não conseguia pagar o aluguel do espaço inteiro. Aquele pedaço que ela ocupava, já levava boa parte do seu faturamento e por mais que a demanda estivesse aumentando, sua limitação de espaço não permitia que ela conseguisse dar conta de todos os pedidos e assim seu crescimento em faturamento ficara muito limitado.

– Ah, Olie! Um dia você consegue. Mas até lá, pense em expandir essa produção por aqui mesmo, estamos deixando de atender muitos clientes.

– Mat, você deveria ser empresário. Estaria rico. Eu adoraria, mas tenho quebrado a cabeça, sem chegar a uma solução.

– Me falta coragem para empreender. E adoro trabalhar para você. Paga minhas contas e não me estressa. Vi meu pai ficar doente de tanto trabalhar e não quero isso para mim. E eu não estudei. Escolhi essa vida e estou bem com ela.

– Você é muito mais capaz do que um monte de gente com mestrado.

– Olie, você é louca. Você vê coisas onde as pessoas não enxergam. – ele brincou com ela.

– Quem me dera! Sabe que acho que era isso que eu precisava? Eu preciso de um pouco de loucura.

– Enquanto não enlouquece, tome aqui a proposta de cardápio para hoje.

Ela pegou o papel e começou a escrever o menu na lousa que seria colocada na calçada em frente à padaria. Após concluir as opções do dia, incluindo uma deliciosa torta de banana, com sua letra maravilhosa, escreveu uma de suas frases fofas, tiradas de um quadro que tinha trazido da Itália. “Amar é conceder ao outro a última fatia de torta.”

– Oieee! – disse Maria ao chegar. – Desculpe o atraso, mas o ônibus demorou a passar e o tempo de parada do trem foi mais longo do que o normal.

– Chegou bem na hora. – disse Olie, tentando acalmá-la. – Onde está o seu carro?

– Com o meu namorado! Ele conseguiu um trabalho. Vai fazer os armários de um apartamento de muitos metros quadrados a perder de vista, em um bairro chique de São Paulo. Ele conseguiu um cliente importante.

– Esse cara te enrola, Maria. – falou Matheus. – Fala para ela, Olie. Não está certo. Ela agora pega trem e ônibus para trabalhar, sendo que pode ter gasolina e estacionamento aqui. E ela tem carro. Que foi comprado com muito suor. Por que ela passa por isso?

– Matheus, pare de gorar meu relacionamento e vai procurar uma mulher que te aguente. – disse Maria, colocando o avental para começar a organizar a loja. – Estou muito bem assim. Eu realmente não me importo de vir de ônibus. Fiz isso a vida toda. Meu namorado precisa do carro mais do que eu. Ele precisa carregar madeira de um lado para o outro. Oras!

– Vocês dois precisam parar com isso. Maria, de uma chance ao Matheus, ele quer seu bem. Agora, vamos abrir. – propôs Olie.

– Vou tomar um café. Essa conversa me deixou de mal humor. – Disse Maria emburrada. No fundo ela dava razão a Matheus. Ela mesma vinha se perguntando se seu novo namorado não estava com ela por interesse. Desde que ele tinha chegado em sua vida, pouco mais de 3 meses atrás, ela não conseguia mais juntar dinheiro, estava com dividas, vivia pra cima e pra baixo de ônibus e ainda bancava a gasolina para o namorado ir trabalhar. Há alguns dias ela vinha questionando essa relação, mas ouvir alguém falando a fazia se sentir ainda mais tola.

– Tu é muito folgada, Maria. – disse Matheus, caminhando na direção da porta para abrir a padaria. – Eu quero o seu bem.

Quando ele abriu a porta de madeira, o sol invadiu a loja. As paredes de tijolos rústicos com acabamento em patina ficaram ainda mais bonitas, parecendo brilhar com a luz do sol que reluzia nas paredes, os produtos dispostos nas duas prateleiras que ocupavam duas paredes da loja, ficaram mais coloridos. Caixas de chá selecionados por Olie, dividiam espaço com potes de geleia artesanal, pães embalados em celofane transparente e caixas coloridas com sonhos, tortas de queijo com geleia e bombas de chocolate que eram feitos com a receita especial ensinada pela avó de Olivia. Depois dos pães, os sonhos da Olie eram os mais famosos.

O ambiente cheirava a café e pão assando e aquele aroma era capaz de deixar mais feliz quem passasse na calçada em frente à loja.

– Bom dia, Olie! – disse seu Francisco, que chegava com o cachorro, que parecia ter a mesma idade e as feições do dono. – O Borges adora essa agua. Acho que esse é o segredo da longevidade dele. – Ele disse enquanto deixava seu cachorro tomando a agua que ficava disponível em uma vasilha na porta para todo cachorro que passasse por ali.

– Não é a água. É esse amor que você dá para ele. Como vai, seu Fran? – Perguntou Olie.

– Mais velho que ontem. E mais sozinho também. – Ele respondeu, tentando não parecer rabugento, mas falhando completamente.

– Um dia ainda aparece uma mulher para o senhor, Seu Fran. – Disse Maria.

– Que aparece nada. Isso é para os jovens. – Ele respondeu.

– A idade está na cabeça, seu Fran.

– E nos joelhos. Cuidem de seus joelhos enquanto são jovens.

– O de sempre, seu Fran? – perguntou Matheus tirando mais uma fornada de pão.

– O de sempre, meu rapaz. O de sempre.

Enquanto seu Fran pagava, a padaria se encheu de gente, que fazia fila para pegar pão quente. O celular de Olivia tocou e ela se sentou no banco de madeira que ficava em frente à padaria para atender.

– Se você não me ligasse até as dez horas eu ia chamar a polícia. Que tal o encontro? – Perguntou Olie, para sua melhor amiga, Luna.

– Estou no céu. Ele acabou de sair da minha casa. – Respondeu Luna.

– Que ótimo que deu certo e ele não era um desses golpistas do Tinder.

– Bom isso não dá para saber, ainda. Mas se ele for, está perdido comigo. Não tenho dinheiro nem para pagar o aluguel esse mês. Vamos nos ver hoje de novo. Ele parece bom demais para ser verdade. Fiquei me questionando como um homem desse está solteiro e procurando mulher em um aplicativo de namoro.

– Luna! Que horror esse comentário que deprecia a você mesma. Você é maravilhosa e está no mesmo aplicativo. Pessoas com histórias parecidas, tem tudo para se encontrar em um aplicativo. Compartilham da mesma dose de desilusão e de desejo também.

– Olie, essa visão é muito romântica. Vou fazer trinta e cinco anos e meu casamento durou só dois anos. Eu pedi demissão para criar uma empresa que, aparentemente, nunca vai dar certo. Deus me ajude. Pelo menos eu estou tentando. Estou esperando aquele momento em que quem espera sempre alcança.

– Luna, seu ex marido, te traiu com uma menina do escritório e engravidou a mulher. Ele é um canalha. O problema não estava em você.

– Talvez estivesse. E estávamos tentando engravidar há um ano. Eu sou mesmo toda errada.

– Vamos mudar de assunto. Me fala do Edgard.

– Ele é CEO de uma startup de beleza. Um gato. Uma versão Christian Grey, sem a parte do sexo sadomasoquista, pelo menos ele não pareceu ser. Deve ter uma fila de mulheres atrás dele. Vamos nos ver hoje de novo. Quando ele saiu daqui hoje de manhã, pensei que poderíamos ser almas gêmeas.

Olivia soltou uma gargalhada, no momento em que Matheus se aproximou para falar com ela.

– Olie, desculpa atrapalhar, mas tem um homem aqui querendo muito falar com você.

– Um homem? – ela perguntou, surpresa.

– Ele fornece farinha e disse que é a melhor.

Luna deu uma gargalhada do outro lado da linha.

– Já vou atende-lo. – respondeu Olivia, tentando se manter séria, mas totalmente contagiada pela risada da amiga.

– Ele está ansioso. Disse que está tentando falar com você há semanas e veio da Argentina.

– Da Argentina? – espantou-se Olivia.

– Da Argentina. – ele repetiu, já voltando para a loja.

Ela voltou para a ligação com Luna,

– Luna, preciso ir. Tem alguém aqui para falar comigo.

– Espero que a farinha dele valha a pena. Vou chamar a Raquel para irmos aí no final do dia hoje. Precisamos conversar. Podemos tomar um drinque no bar que fica em cima da padaria.

– Luna, a Raquel vai estar em três reuniões ao mesmo tempo nesse horário. Mas estarei por aqui. Me avisa, se vierem.

– Precisamos dar um jeito nela. Ela precisa aproveitar mais a vida. Quando não está trabalhando, está fazendo faxina na casa.

– Totalmente de acordo.

– Boa sorte com a farinha.

Olivia desligou o telefone e entrou no ambiente caótico da padaria. Passou pelo pequeno espaço, lotado, e caminhou até o fundo da loja, onde ela tinha um escritório em que cuidava de temas administrativos e atendia a fornecedores.

Quando ela chegou, se deparou com um homem deslumbrante. “Meu Deus, nunca imaginei que um homem que vende farinha, pudesse ter uma aparência dessas.” Olie pensava, achando graça de seus pensamentos. E quando ela viu uma aliança na mão esquerda, riu ainda mais de si mesma.

A conversa com ele foi rápida. Ele tinha vindo visitar potenciais clientes e havia começado por ela, devido ao sucesso que seus pães faziam. O homem abriria um escritório em São Paulo para atender empresas como a dela, com custos competitivos e ela seria sua primeira cliente. O produto dele era diferenciado e se encaixava perfeitamente nas receitas especiais dela.

O homem foi embora satisfeito e Olivia ficou por uns instantes contemplando a loja da porta de seu escritório. O espaço charmoso e apertado, estava lindo com aquela luz do sol e repleto de pessoas interessantes. Enquanto ouvia a música “Don´t know Why” de Norah Jones, que parecia combinar perfeitamente com a cena. Ela sorriu, satisfeita.

“A vida é mesmo maravilhosa.” Ela pensava, quando a chegada do fotografo, que trabalhava no estúdio ao lado da padaria, a distraiu de seus pensamentos.

– Oi, Olie. – Ele disse ao chegar. – Tudo bem?

– Oi, Guto. Como está? Anda sumido.

– Estou trabalhando muito! Depois de uma fase meio parada, estou com a agenda lotada de trabalhos. Inclusive, estou aqui para te pedir uma ajuda. Terei três sessões de fotos bem longas essa semana e o cliente estará aqui. Vamos produzir uma campanha de moda bem grande, de uma marca internacional. Os caras estão fotografando no Brasil, porque fica muito mais barato. E preciso de um serviço de alimentação. Você consegue preparar algo para café, almoço e coffee break nos próximos três dias? O orçamento é muito bom!

– Fico feliz que as coisas estejam melhorando. Sinal de tempos bons chegando. Você merece todo o sucesso! Posso pensar sim. Podemos utilizar seu espaço?

– Não terei espaço. Minha sala extra será usada como camarim. Serão mais de 10 modelos. Eu precisaria que você me ajudasse com o espaço.

– Mas meu espaço não comporta mais do que seis pessoas sentadas. – Ela disse apontando para a única mesa do lugar. Posso pensar em algo na calçada. Embaixo do toldo verde. Podemos remover o banco nesses dias. Me dá uns minutos para pensar e estruturar algo e volto a falar com você. Pode ser?

– Claro. Considere em torno de 40 pessoas. Você me retorna até o meio da tarde?

– Sim. Vou fazer o possível. Pode deixar.

– Você é maravilhosa. Obrigada, Olie. Até mais tarde.

Ele foi embora e Olivia ficou olhando para o seu espaço minúsculo. “Como acomodar 40 pessoas aqui? Mesmo que eu monte mesas na calçada será impossível. Não posso perder um serviço como esse. Pensa, Olie!”

– Tudo bem, Olie? – perguntou Maria, vendo a chefe parada, olhando para o nada, com cara de preocupada no meio da padaria.

– Sim! Só pensando em como fazer o milagre da multiplicação do espaço. Temos uma oportunidade de fazer um serviço para 40 pessoas por três dias, com três refeições, mas não acho que conseguiremos atender por causa do espaço.

– Por que você não pede para usar o espaço aqui de cima? Eles tem as mesas na varanda e o bar não funciona durante o dia.

Parecia tão obvio! Como ela não tinha pensado nisso?

– Você é brilhante, Maria. E um dia, esse espaço há de ser meu. Olha como podemos prosperar se conseguirmos esse espaço.

– Pois é! Tomara que você consiga. Nem que seja somente a varanda. Devem caber umas 30 pessoas sentadas lá em cima.

– No mínimo. E o espaço é um charme, cercado de flores e plantas.

– Liga para o dono. Não tem porque ele não te emprestar o espaço.

– Farei isso.

E Olivia, saiu animada em direção ao seu escritório. Depois de uma ligação rápida, ela conseguiu o espaço e chamou Matheus para ajudá-la com o cardápio. Aquela era a motivação que ela precisava para conquistar aquele espaço. Ela só não tinha ideia como faria.

**

No final do dia, Olivia foi surpreendida pela chegada de suas melhores amigas, Luna e Raquel. Eram quase sete horas da noite e ela estava se preparando para fechar a padaria.

– O que aconteceu? – Olie, perguntou assustada.

– Nada! Passamos para tomar um drinque com você. – Respondeu Luna.

– A Raquel veio. – Olie falou, impressionada.

– Me dá só um minuto. – Disse Raquel, enquanto terminava uma ligação.

– Eu disse que viríamos. Fui na casa dela e disse que precisávamos muito conversar.

– Amiga, você está deslumbrante.

– Eu vou direto daqui, encontrar o Edgard. Nosso segundo encontro. E a Raquel ficou curiosa para saber o que estava acontecendo. Eu disse que só contava se ela viesse pessoalmente. E também falei sobre seu possível affair.

– Você fez chantagem com ela? – Riu Olivia.

E a Raquel balançou a cabeça em sinal afirmativo. Enquanto seguia, séria em sua reunião.

– Me fala sobre o homem da farinha. – Pediu Luna.

– Ele é um gato e está abrindo um escritório aqui em São Paulo. E assinamos um contrato hoje.

– Será que ele pode ser o amor da sua vida?

– Talvez… se ele se divorciar.

– Ah! Ele é casado?

– Sim! – Respondeu Olivia, caindo na gargalhada.

– Olie, uma hora o amor da sua vida vai entrar por aquela porta. – Disse Luna, apontando a porta. Que no momento só contava com a presença do Matheus. Elas riram. – Uma hora. Não exatamente agora. – Ela complementou, caindo na gargalhada.

– Não estou pensando muito nisso. Vou me dedicar ao meu negócio. Estou testando novas receitas e planejando maneiras de expandir meu negócio. Acho que o amor ou uma paixão, são distrações que eu não preciso agora. – Disse Olivia melancólica. Ela queria muito não se importar com isso e viver bem sozinha, mas até o episódio sobre pinguins que ficavam com uma única parceira durante a vida, no Discovery Chanel, a fazia suspirar, alimentando seu lado romântico. – E esqueçam o bar de cima. Vou fazer aperol para a gente e tomamos aqui mesmo. Me deem um minuto, e volto com os drinques.

Olivia saiu deixando Raquel concentradíssima no telefone em sua reunião e Luna, com seu olhar perdido para a porta.

Quando Olie voltou com os drinques e uma bandeja repleta de comidinhas, Matheus fechava a linda porta de madeira trabalhada da padaria, que parecia pertencer à uma casa charmosa na Toscana e Raquel seguia no telefone. Ela levantou a cabeça do celular e sorriu ao ver o balde com aperol sendo entregue para ela.

– Ele acabou de desmarcar o encontro de hoje, dizendo que surgiu um imprevisto no trabalho. – Disse Luna, se sentindo arrasada.

– Acontece. – Olie falou, colocando um pedaço enorme de pão na boca.

– Ele desmarcou por mensagem de texto. Ele sequer me ligou.

– De repente está muito ocupado. Olhe para a Raquel. Se ela tivesse um encontro hoje, teria que desmarcar por mensagem de texto. – Disse Olie, que seguia passando patê em um mais um pedaço de pão.

– Ela trabalha demais. Como o casamento dela resiste? – perguntou Luna, mudando de assunto, tentando parecer recomposta depois do cancelamento do encontro por mensagem de texto, que no fundo do seu coração, ela sabia o que significava, mesmo com Olie tentando amenizar a situação, encontrando pretextos racionais.

– Não resiste. – Disse Raquel, desligando o telefone. – O João pediu o divórcio.

– O que? Como assim? – Perguntaram juntas, totalmente chocadas.

– Ontem! Eu estava trabalhando e precisava ler meus e-mails. E ele queria transar. A gente não faz sexo há umas duas semanas. Mas eu precisava trabalhar. Precisava fazer aprovações para meu time poder seguir com seus projetos hoje. Eu fico o dia inteiro em reuniões e só tenho a noite para ler meus e-mails e acessar o sistema de aprovações de despesas para liberar dinheiro para os testes. Ele precisa entender que meu trabalho demanda demais.

– Raquel! Sinto muito! Tenho certeza que vocês vão se acertar. Ele é louco por você. – Disse Olie.

– Dessa vez, acho que ele está falando bem sério. Ele disse que vai sair de casa no final dessa semana.

– Sinto muito, Raquel! Disse Luna.

– Eu nem sei o que eu sinto. Acho que nossos caminhos se separaram em algum ponto. Ele quer filhos e honestamente, não vejo como encaixar filhos na nossa rotina, sem que tenhamos que terceirizar os cuidados com eles. Não temos tempo nem para fazer filhos. Eu batalhei muito pela minha carreira e o doutorado está me tomando muito tempo. Fui promovida a um cargo muito estratégico e posso me tornar a primeira cientista perfumista brasileira.

– Por que você não vai para casa e o surpreende com uma noite romântica? – Propôs Olie.

– Porque eu não sei fazer essas coisas. Nem tenho lingerie para isso. E honestamente, não sei mais se quero continuar casada.

– Meu Deus Raquel! Há quanto tempo tem se sentido assim? – Perguntou Luna.

– Há alguns meses. Desde que comecei o doutorado. – Disse Raquel, com o olhar distante, dando um gole generoso em seu drinque. – Ele está desacelerando a carreira e se habituando a viver com menos. Ele quer se aposentar aos 40 anos. Ele estava planejando passar nossas próximas férias em um lugar sem internet, para nos conectarmos com a natureza e um com o outro. Eu não posso imaginar uma situação mais desesperadora do que essa. Vocês conseguem me ver em um lugar assim? Eles meditam e fazem saudações ao sol de mãos dadas. Quando ele mostrou a proposta do lugar, me lembrei da parte em que a escritora do livro Comer, Rezar e Amar, vai para a Índia e precisa ficar em silencio por vários dias, usando uma placa que diz que ela está em silencio, para que as pessoas entendam que não devem falar com ela. Não entendo porque se submeter a esse tipo de tortura. O que é possível aprender com isso?

– Do que exatamente você acha que vocês precisam? – Perguntou Olivia, genuinamente curiosa.

– Eu não sei! Mas estou certa que não seriam dias sem conexão com o mundo. Eu nem queria tirar férias. É um péssimo momento. Vou apresentar a proposta de fragrâncias para um lançamento de produtos para o corpo no final desse mês, que vai envolver muita tecnologia voltada para o bem estar. Esse é um dos projetos mais importantes da companhia. E além disso, estamos montando o orçamento do ano que vem. Eu não queria me afastar agora. Só estou saindo porque a empresa me obrigou. Estou há dois anos sem tirar férias. – Disse Raquel, sentindo um misto de orgulho e vergonha.

– Como você consegue, trabalhar assim, sem descanso, sem pausa? A vida tem coisas incríveis, além do trabalho. – Disse Luna. – Que diga-se de passagem não deveria ocupar um status tão importante ou ser prioridade na vida. Você se dedica demais ao trabalho. Você tem uma equipe. E não quero te machucar com o que vou dizer, mas a empresa vai sobreviver sem você, durante as suas férias. Por mais incrível que você seja.

– O trabalho ocupa espaço suficiente para não sentirmos dor. Como a dor que estou sentindo agora. Eu amo o João. Estou tentando ser forte e tentando pensar em algo. Não sei se posso ser a pessoa que ele espera que eu seja. O quanto deveríamos mudar para nos encaixar nas preferencias de alguém? – Desabafou Raquel, que tinha um princípio de lágrimas nos olhos. – Estou tão confusa.

– O João é louco por você. Ele gosta até das suas excentricidades, como gostar de lavar banheiro para aliviar o stress. – Disse Olivia.

– Aliviar o stress e economizar com a faxineira. – Confessou Raquel, tomando mais um gole generoso do seu drinque.

– Quel, não tente nos enganar. Você jamais faria, se não gostasse mesmo. Você ganha bem o suficiente para contratar alguém para te ajudar com as tarefas da casa.

– Ver a sujeira indo embora é muito satisfatório. Se eu não tivesse que trabalhar tantas horas, limparia os vidros de casa todos os dias só para ver aquele movimento hipnótico do rodo tirando a agua e deixando tudo tinindo de tão limpo.

– Raquel, você não existe. – Comentou Luna, tomando o que restava do seu drinque.

– Meninas, o pedido do divórcio mexeu comigo. Vou fazer 36 anos e não tenho nada além da minha casa, meus diplomas e meu trabalho. O que estará escrito no meu epitáfio, quando eu me for desse mundo? “Ex esposa querida, apaixonada pelo trabalho e louca por lavar banheiro. Entusiasta da limpeza e mestre no ilusionismo quando finge que não está trabalhando, mentindo sobre estar em contato com pessoas queridas nas redes sociais.”

– Você tem a nós. Nós socializamos de verdade. E não há mal algum em gostar de ver as coisas limpas. Nem em gostar tanto de trabalhar. Afinal, como dizem: O trabalho dignifica o homem. – Ponderou Olivia.

– Acho que a gente precisa de um tempo! – Disse Luna, mais alto do que gostaria, assustando as meninas. – Recebi um convite hoje para visitar um resort de luxo no nordeste por causa do meu site. Fui notada pelo primeiro grande cliente. Eles me disseram que posso levar quantas pessoas eu quiser. Não vamos gastar nada. Será tudo por conta deles. E vocês me ajudam nas resenhas. Que tal? É o primeiro resort seis estrelas do Brasil! E faz um século que não viajamos juntas. Se animem, meninas.

– Eu preciso trabalhar. Além de entender o que será feito da minha vida com o João. – Disse Raquel. – Não posso sair agora.

– Não, Quel! Você precisa de férias! Até sua empresa está te obrigando a sair de férias. – Argumentou Luna. – E o João precisa sentir sua falta e ver sua motivação em cuidar mais de você. E sem querer ser cruel, mas já sendo. Me perdoa? Ele está saindo de casa. Então, acho que ele não vai se importar dessa vez.

– Você tem razão. Vocês sempre tem razão. – Concordou, Raquel. – Ainda bem, que tenho vocês.

– Eu adoraria ir. Acho de verdade que estamos precisando de um tempo assim, mas tenho um evento aqui na padaria essa semana que durará três dias. Inclusive, esses pães aqui são um teste que estou fazendo. E só eu estou comendo. Comam, por favor, meninas. Eu acabei de aprovar esse evento com o cliente. Eu queria muito estar com vocês nessa aventura, mas não posso me afastar agora. – Disse Olivia, realmente desapontada, porque queria muito viver esse momento com as amigas.

– Não estou falando para irmos amanhã. Vamos no final de semana, e vocês tem tempo de se preparem. Está feito. Sem mais desculpas. Vocês vão comigo. Precisamos nos divertir um pouco. A Raquel precisa consertar a trinca do coração, a Olivia precisa começar a flertar de novo, pelo amor de Deus! E eu… – Ela fez uma pausa dramática, respirando fundo. – Eu, FINALMENTE, vou atender o primeiro cliente da Best Things To Do. Só por isso, vocês deveriam estar indo comigo. – Impôs Luna.

– Sendo assim! Nós vamos! Que tal mais uma rodada de drinque para comemorarmos? – Propôs Olivia.

– Só assim para eu tomar coragem. – Brincou Raquel. – Respondo depois do drinque.

Olivia fez mais drinques e elas comemoraram, levemente embriagadas, a decisão de fazerem uma loucura, que todas sabiam que estavam precisando. Para elas mesmas e elas juntas. Elas estavam precisando se sentirem vivas de novo.

**

Luna acordou empolgada para organizar a viagem entre ela e as melhores amigas ao resort seis estrelas. Desde que tinha começado sua empresa, a “Best Things To Do”, um site com selos de recomendação de serviços e lugares destinados à diversão baseado, principalmente, na opinião de consumidores que estiveram nos locais recomendados pelo site. Os consumidores também poderiam incluir no site suas sugestões e recomendar produtos, serviços, pessoas e lugares que tivessem lhes proporcionado boas experiências, onde outros consumidores poderiam também contribuir com a sua opinião. Todas as recomendações e avaliações eram feitas sob critérios pré-definidos pelo site e dessa forma as avaliações sempre seriam justas. Os lugares mais indicados e melhores avaliados pelos consumidores, seriam visitados por ela, que concederia um selo de acordo com a satisfação do site após a avaliação dos mesmos 10 quesitos avaliados pelos consumidores – localização, atendimento, comidas, bebidas, atmosfera (esse era totalmente fantasioso e ela não abria mão, além da nota, ela agregava palavras que ajudavam as pessoas entenderem o que poderiam sentir enquanto estivessem no lugar), acomodações, bem estar e felicidade (parecido com o item da atmosfera, esse item trazia a avaliação dos serviços oferecidos e o quanto satisfatórios eram), diversão, facilidade de acesso, custo versus benefício. Cada um dos 10 quesitos eram avaliados com notas de 0 a 10 e o número da soma era o valor do selo. Selos acima de 95 eram platina, de 85 a 94 eram diamante, 75 a 84 ouro. Os lugares que ficassem abaixo dessa pontuação não ganhavam selos. Ela estava indo para lugares novos e alguns já tradicionais, com o próprio dinheiro e ainda não tinha concedido o selo platina para nenhum estabelecimento. Sua forma de avaliação estava começando a chamar atenção de lugares turísticos e de restaurantes renomados. E os consumidores estavam gostando de fazer a avaliação dos lugares, conforme aqueles critérios. Ela estava buscando parcerias com grandes agências de viagens para oferecer pontos que poderiam ser trocados milhas de viagens em troca das avaliações feitas no site. Era um jeito inovador que garantia consistência e evitava que as pessoas se decepcionassem com suas experiências. A economia colaborativa estava na moda, ela tinha baixo custo para gerar conteúdo e ajudava as pessoas a encontrarem lugares para se divertirem. Ela estava tentando a meses fazer sua ideia decolar e o dinheiro da sua poupança começava a acabar, a impossibilitando de seguir viajando para lugares com seus próprios recursos. Aquele convite enchia seu coração de esperança sobre o sucesso de seu empresa. Ela definitivamente, se sentia dando um próximo passo na empresa e isso a enchia de excelentes expectativas. “Sorte no jogo, azar no amor.” Ela pensava. A vida costumava ser assim com ela. Quando algo ia muito bem, as outras coisas não iam tão bem assim. Ela precisava admitir que sua vida andava paralisada nos dois sentidos nos últimos tempos. Sua vida amorosa era contada a partir de encontros que começavam em aplicativos de namoro na internet e raramente passavam do segundo encontro e sua vida profissional, a estava desafiando a meses. Ela já estava no final de sua poupança e o site, começava enfim a ganhar visibilidade dos potenciais clientes. Uma coisa começava a prosperar, finalmente.

Depois de organizar a proposta, enviou para o resort e foi ler seus e-mails na esperança de ter alguma notícia de Edgard. O encontro deles dois dias atrás tinha sido fantástico, mas ele tinha desaparecido desde então. Eles trocaram uma única mensagem de texto quando ele cancelou o encontro da noite anterior. Ela resolveu ligar para ele, para testar a hipótese de Olivia. Ela precisava desesperadamente ter esperança de que ele a queria e que só estava muito ocupado. Edgard era um cara por quem valia a pena quebrar algumas regras, parecendo interessada demais. Porque ela estava, de fato, muito interessada. “O que eu tenho a perder, afinal? Ninguém perde o que não tem.” Sua dignidade! A própria consciência gritou com ela, mas nem assim ela desistiu de ligar para ele. Ela estava ansiosa, esperando ele atender, quando a ligação foi interrompida. Seguida de uma mensagem. “Estou ocupado, não posso falar agora.” Mesmo sabendo que o telefone deveria ter enviado de forma automática aquela mensagem fria, ela se forçou a acreditar que ele estava mesmo muito ocupado e ainda tinha se preocupado em avisá-la que não podia falar. Que gentil da parte dele! Ela se forçava a acreditar. Ela pensou em ligar de novo, dizendo a si mesma, que ele poderia ter desligado sem querer. Mas achou que seria demais. Iria esperar que ele retornasse. A consciência dela não a perdoaria se ele se enganasse aquele ponto.

O celular dela apitou mostrando um compromisso. Ela tinha marcado uma reunião com uma freelancer que contrataria para ajudá-la a gerenciar as redes sociais. De acordo com seu plano, quando atingisse 10 mil seguidores, buscaria ajuda para garantir estar em contato com todos que interagissem com a marca dela. Ela tinha pouco mais de 10 minutos para se arrumar e sair.

“Obrigada por esse compromisso, meu Deus! E pelos quase 10 mil seguidores.” Ela agradecia em voz alta, enquanto se vestia. Só assim ela mudaria os rumos dos pensamentos dela, que eram somente do Edgard, que aparentemente, andava pensando em tudo, menos nela.

**

Era sexta-feira e a semana tinha sido incrível. Olivia se sentia inspirada. Ela tinha feito seu primeiro evento, e ganhara uma boa grana extra. Mas o mais importante, fora o sucesso do evento, que certamente poderia render outros. Naquela noite ela viajaria para um resort de luxo com as melhores amigas e se sentia viva pelas boas perspectivas. Há muito tempo ela não sentia uma felicidade como aquela. Até o ato de respirar fundo a fazia se sentir feliz. Esse sentimento a inspirou a colocar a frase do dia na lousa da calçada. “Felicidade é um sentir com todos os sentidos.” E aquela frase iria para seu caderninho de frases que na sua imensa maioria reunia comida à felicidade.

Assim que ela terminou de escrever, uma artista plástica de vinte e poucos anos, que começava a fazer sucesso, chegou animada.

– Bom dia, Olie! Sua frase me inspirou felicidade. E preciso te dizer que o cheiro de pão desse lugar me faz sentir felicidade pelo nariz, sempre que entro aqui. Não que precise entrar, porque o cheiro de pão assando está na calçada.

– Greta! Essa é a ideia. Sentir com todos os sentidos. E parabéns pela matéria na televisão. Eu sempre amei seu trabalho e não tinha a menor dúvida que você faria muito sucesso. Preciso comprar mais quadros seus, antes que fiquem caros demais. Daqui a pouco vou ver suas obras estampando caixas de panetones caros.

– Olie, eu nunca vou me esquecer que vendi meu primeiro quadro na porta dessa padaria linda. Obrigada por abrir espaço para mim.

– Quando uma mulher prospera, leva muitas outras com ela. – Disse Olie.

– Você está mesmo inspirada! Está amando?

– Sim! – Respondeu Olie, se sentindo apaixonada por si mesma. – Posso dizer que sim.

Greta foi embora, deixando Olivia ainda mais feliz. Ela fazia muito pouco, mas fazia tudo o que podia para ajudar as pessoas a SE sentirem felizes e realizadas. E trabalhar com comida dava a ela essa possibilidade. Ela levava prazer para a vida das pessoas e nada podia faze-la mais feliz que isso. Ela definitivamente, vivia seu propósito todos os dias. E se podia contribuir para que decolassem suas carreiras, ela se sentia ainda mais realizada. Mesmo que fosse cedendo parte de seu espaço minúsculo para apoiar quem trabalhava duro e estava começando.

Ela aproveitou um raro momento de tranquilidade, pegou um café espresso super perfumado e se sentou no banco de madeira em frente à padaria, que estava cercado de flores, embaixo de um lindo ipê branco que estava todo florido e ficou observando o vai e vem de entregadores que subiam e desciam as escadas que levavam à parte de cima da padaria, para o lugar que ela queria tanto que fosse dela, levando mercadorias para o bar que funcionava a noite. Que charmoso era aquele lugar, em qualquer horário do dia. Ela desejou que aquele serviço estivesse acontecendo para abastecer a pizzaria dela. Ela tinha conseguido fazer a massa de pizza mais leve que já tinha comigo e reproduzira com perfeição o molho de tomate que a avó italiana tinha lhe ensinado, mas ela não tinha um espaço para comercializar suas pizzas, que acabavam restritas à sua própria cozinha.

“Um dia você consegue. Um dia você terá a “Olie – padaria e pizzaria”. Em um só lugar. E vai ser nesse lugar. Porque não há lugar mais charmoso do que esse.” Ela falava consigo mesma esperando de alguma forma entregar aquele desejo para o universo.

– Sonhando acordada? – Perguntou Maria, trazendo pães recém assados, de uma nova receita que Olivia estava criando. – Que boas notícias suas amigas te trouxeram essa semana? Pela quantidade de garrafas, a noite foi animada e você anda sorrindo, desde então. Os pães estão prontos. E se o sabor estiver tão bom quanto o cheiro, serão sucesso na certa.

– Estou mesmo diferente hoje. – Ela disse pegando um pão. – Exageramos nos drinques essa semana. Mas estávamos precisando. A semana voou e viajaremos hoje para um lugar especial. Há tempos não viajávamos juntas. Acho que é isso que está me animando.

– Como diz minha avó. Não tem nada melhor para a vida do que boas perspectivas. Isso nos dá gás para seguir caminhando.

– Que sábia é a sua avó. – comentou Olie.

– Ela é mesmo. Ela não estudou, mas sabe muito da vida. Ela é um exemplo para mim. – Disse Maria, orgulhosa.

– Por isso, você é tão especial, Maria.

– Sou nada. – Disse Maria constrangida. – Aproveite muito sua viagem. – Ela mudou de assunto, se sentindo constrangida.

– Você e o Matheus vão cuidar de tudo por aqui. Tentem não se matar, por favor.

– Ele é muito implicante. Vou ter que me esforçar muito para não mata-lo.

– Você também é.

– Estou só me defendendo.

Olivia sorriu para ela. Os dois ainda iam descobrir que sentiam algo especial um pelo outro. Para Olie, o sentimento deles estava estampado na cara deles, mas eles eram incapazes de enxergar.

– Ah! E essa receita nova, ficou especial. Parece até que a dona da receita está apaixonada. – Provocou Maria.

– Ficou mesmo especial. Isso está delicioso. – Concordou Olie. – E estou usando somente 4 ingredientes. Quero simplificar minhas receitas ao máximo possível. O minimalismo está na moda.

– Dá gosto te ver comendo, Olivia.

– Eu adoro comer. E adoro fazer comida boa para os outros comerem também. Acho que herdei isso da minha avó italiana.

– Como é magrinha assim?

– Acho que é por causa da ginastica. E não sou tão magrinha assim.

– Não seja modesta, Olivia. Sua genética é mesmo boa. Deve ter puxado a sua avó italiana. – Brincou Maria.

– Tomara que sim.

Maria voltou para a cozinha e Olivia seguiu comendo os pães, aprovando totalmente sua nova receita. E de longe ela ouvia a Maria e o Matheus implicando um com o outro.

“Que saudade de ter alguém assim na minha vida.” Ela pensava, desejando amar de novo pela primeira vez desde que tinha terminado seu último relacionamento. Mas logo ela espantou aquela sensação. Ela não precisava de distrações naquele momento em que precisava se dedicar às suas novas oportunidades de expandir seu negócio.

O dia passou voando e depois de vender muitos sonhos de framboesa, pães e bombas de chocolate, e de fechar mais um evento para fornecer o catering para o fotografo que trabalhava no estúdio ao lado, que tinha adorado o serviço prestado naquela semana, ela entrou no taxi com sua micro mala, para ir encontrar suas amigas e começar a aventura que a fazia sentir coisas diferentes. Uma perspectiva nova. Como se o que estivesse por vir, fosse mudar totalmente sua vida. Ela chamava de perspectivas, mas poderia ser esperança.

**

A esperança tinha tomado conta do coração das três amigas. Todas elas estampavam sorrisos lindos em seus rostos. Raquel descobriu que precisava de férias e de um tempo fora de casa, depois da saída de João na noite anterior. Ela sentiu uma solidão que não imaginava existir. Depois que ele saiu de casa, ela sentiu como se seu coração tivesse sido levado embora também, ao ser arrancado de seu peito sem consentimento. E um vazio enorme tinha tomado conta dela. Tinha sido muito mais difícil do que ela esperava. E encarar a casa que era deles, sem ele, fazia com que ela se sentisse uma intrusa na própria casa. Nem trabalhar, ela tinha conseguido na noite anterior. Ela estava devastada.

Luna se sentia rejeitada de um jeito diferente. Edgard tinha desaparecido, sem dar mais nenhuma satisfação, além daquela mensagem de texto. E por mais que isso acontecesse com frequência, aquela rejeição parecia doer mais que as anteriores, a fazendo acreditar que talvez ela tivesse se apaixonado no primeiro encontro. Mas aquela viagem era um símbolo de prosperidade da empresa dela, que finalmente, começava a dar sinais que iria decolar. E isso começava a ocupar um espaço enorme coração dela. Mesmo que ela tivesse que fazer um pouco de força para isso. Como mover um oceano de lugar, usando apenas uma colher de chá. Ela era intensa e muitas vezes, essa intensidade cobrava um alto preço do coração dela.

E Olivia se sentia feliz pelo futuro. Ela leu uma frase no café do aeroporto que a fez sorrir. “Inspiração é o futuro cochichando em seu ouvido.” E ela achou que Deus estava conversando com ela. A vida era mesmo engraçada. Ela estava mudando. Estava se tornando mais sensível. Talvez fosse o ascendente dela em Peixes se sobressaindo. Ela riu de si mesma. “Desde quando eu acredito em horóscopo? Pelo amor de Deus. O que está havendo comigo?” Ela falava consigo mesma em seus pensamentos.

Luna comprou uma garrafa de champanhe e chegou animada com copos descartáveis de café.

– Precisamos começar essa viagem com champanhe. Vamos celebrar pelo que está por vir. E por termos umas às outras. – Ela disse servindo os copos de papel estampados com diferentes sorrisos.

– Tim-tim. – As meninas disseram juntas, quando receberam seus copos.

Elas nunca tinham se sentido tão gratas por terem umas às outras. E o champanhe nunca tinha sido tão saboroso. Talvez fosse o efeito do papel dos copos descartáveis. Ou das bolhas de champanhe. Mas de fato, as boas perspectivas ajudavam.

O CAPÍTULO 2 SERÁ PUBLICADO NA PRÓXIMA SEXTA-FEIRA

Capitulo 2 – Vida cinza

“Então é melhor você começar a acreditar.”

De: Gustavo para Arthur

 

O dia de Arthur estava caótico. Ele tinha dormido poucas horas e tinha encarado uma reunião longa, que durara mais de quatro horas, com os acionistas da empresa. Uma multinacional brasileira que produzia bebidas que vinham ficando famosas no mundo inteiro. Ele fora escolhido como o sucessor, que tinha sido treinado para assumir os negócios prósperos que estavam na família há três gerações. Essa era a história que ele se forçava a acreditar. Mas na realidade, ele era o irmão mais velho e o mais responsável, que acabou assumindo o desafio depois que os dois irmãos mais novos foram viver suas vidas livres e sem preocupações em outros países. Desde a morte do pai, dois anos atrás, ele sentia que tinha sido aprisionado àquela cadeira imponente atrás de uma mesa de mármore sofisticada na sala grandiosa da presidência. Ele tinha 37 anos e sentia que tinha envelhecido 10 anos nos últimos anos. E se sentia sozinho. O avô que ele amava de paixão, estava doente e a doença de Alzheimer, que tinha sido diagnosticada há três anos, progredia mais rápido que o esperado. Ele já nem parecia com aquele homem imponente pintado no retrato pendurado na parede ao lado do retrato do pai que tinha morrido, tão precocemente em um acidente de carro, que levara também a mãe dele. Logo, o retrato dele estaria ali também e isso lhe causava um arrepio na espinha…

Esse é o primeiro capítulo do livro Tês Vezes Amor que está disponivel nas versões kindle e K.U.

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Sabrina Almeida

Sou mãe, filha, esposa, mulher, amiga, confidente, conselheira. Sonhadora, determinada e realizadora. Organizada, mas com um que de caótica. Apaixonada pela vida e pelas pessoas. Intensa!

Publicitaria, trabalho desenvolvendo produtos e marcas para deixar as pessoas mais bonitas e felizes.

Escrevo porque amo escrever. Minha cabeça está sempre repleta de sonhos e devaneios. Sigo sempre meu coração. Hoje penso mais antes de tomar uma decisão. Encontrei a FELICIDADE, assim todinha maiuscula, nas coisas simples da vida. E escrever é uma delas.

Enquanto as pessoas vão para a academia, fazem trilhas, tocam instrumentos musicais, cozinham… Eu escrevo! Esse é o meu hobbie… Escrevo para traduzir o que está no meu coração, sem regras, métodos ou filtros. Escrevo porque me inspira e me faz feliz.

Acredito que é simples ser feliz e que para isso é preciso uma boa dose de coragem, de sorte e de sonhos e devaneios.

Quando eu decidi escrever, uma pessoa me perguntou: “quem te garante que as pessoas vão se interessar pelo que você escreve?” E a minha resposta é como vou concluir minha apresentação.

Vou escrever para tentar ajudar as pessoas a ver diferentes perspectivas, rir no meio de um dia difícil ou enxergar poesia no dia a dia. E se eu conseguir tocar o coração de pelo menos uma única pessoa, já terá valido à pena.

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