Me peguei em uma prece silenciosa pedindo que o tempo não passasse e naquele momento entendi que aquele pedido, que vinha do fundo do meu coração, não fazia o menor sentido e de repente uma cena do meu cotidiano me fez entender onde estavam os milagres da minha vida e a verdadeira razão da minha gratidão.
Me tornei grata pelo tempo e pela deliciosa forma como ele passa, me dando o melhor de todas as coisas. O presente.
E nesse momento entendi a bondade do tempo.
O tempo me deu oportunidade de sentir gratidão por meus filhos crescerem e me apresentarem coisas novas diariamente, por mais crescidos que eles estejam, me dando de presente o meu presente. Me deu ainda oportunidade de ver meus filhos crescendo e dividindo seus melhores momentos ao lado dos filhos das pessoas mais importantes da minha vida, que dividiram seus momentos comigo, enquanto cresciam também, junto comigo.
Sinto gratidão por poder ver a transformação de tudo a minha volta, enquanto vou me transformando no melhor que posso ser. E isso me fez aceitar que o tempo não volta atrás e me mostrou que a minha melhor versão é a de agora. Se eu tivesse a oportunidade de voltar no tempo, talvez até dissesse não. Não quero mais me importar tanto com tudo que não importa. E esse é outro presente do tempo. Ele mostra o verdadeiro valor das coisas.
Quanto mais o tempo passa, mais se trata de valor. O tempo vai ficando cada vez mais valioso e nós vamos ficando cada vez mais seletivos. E essa equação nos ensina a entender o que realmente importa e assim aprendemos a não perder tempo.
Outra coisa que o tempo ensina é a não ter pressa. Nos pegamos muitas vezes implorando para que o tempo passe e que o futuro chegue logo. Esse é um alto risco para aqueles que sonham muito. E também cometemos o erro de fazer mais coisas do que o que realmente cabe no nosso tempo e assim, vamos nos tornando ocupados demais, com coisas que não importam tanto. Esse acaba sendo nosso maior erro. E começamos assim a olhar o urgente e não importante. E aqui entra outra preciosa lição do tempo. Não ter pressa e não perder tempo.
Seguiremos crescendo, mesmo depois de grandes. Os filhos seguirão crescendo, mesmo depois de grandes. As amizades continuarão crescendo quanto mais passar o tempo. Os amores seguirão crescendo e se transformando enquanto o tempo passa.
A passagem do tempo traz perdas, mas o que vivemos fica na memória e no coração para sempre. Vão-se as pessoas queridas, a juventude, a pele perfeita, a beleza padrão, as coisas que gostamos. Tudo sofre o impacto da passagem do tempo. É inútil lutar contra isso. O tempo também ensina a aceitar e cura as feridas.
A felicidade consiste em olhar o presente e aproveitar o tempo. As pessoas, os amores, a beleza e tudo aquilo que preenche nossa vida com gratidão, amor e significado.
Hoje vejo o tempo bondoso, por mais rápido que ele passe, às vezes me atropelando. Com a passagem dele vem muitas coisas boas. Lembranças, realização, novos sonhos, novas possibilidades, recomeços e gratidão. Pelo que passou e pelo agora.
E assim minha relação com o tempo se transformou. Substitui o medo da passagem dele e a minha vontade inútil de pará-lo, pela gratidão por tudo que ele me trouxe e as possibilidades que ele me dá, diariamente.
Pela bondade do tempo, viveremos intensamente o precioso presente e sobreviveremos à passagem do tempo, sendo nós mesmos, apesar de totalmente transformados. Na pele, na memória, no coração.