Amor à Vida

O poder libertador do não

Vivemos em um mundo onde morremos de medo de dizer não. Mesmo quando o NÃO é a resposta mais óbvia. Temos medo de nos indispor com a pessoa, mesmo que a gente nem conheça a pessoa em questão. As pessoas que tem dificuldade em dizer não, geralmente gastam dinheiro com aquilo que não precisam, se sobrecarregam no trabalho e em casa, se desgastam mais na escola, se cansam mais nas ações do dia à dia, arriscam na educação dos filhos e com certeza, vão acumulando um sentimento de pena de si mesmo ao longo da vida.

Você compraria esse bichinho?
Você compraria esse bichinho?

Minha irmã é uma pessoa meiga, fofa, que se preocupa muito com as pessoas. Ela também é super consciente em relação ao dinheiro. Não gasta dinheiro com qualquer coisa, pechincha e até pode abrir mão de qualidade em nome de uma boa economia. Há alguns dias atrás, ela estava enlouquecida com os preparativos do aniversário da minha sobrinha. Claro que com espírito consciente quanto ao dinheiro, ela estava tendo mais trabalho para comprar as coisas do jeito que ela queria, por preços mais acessíveis. No último dia das compras ela estava voltando para casa, quase brava, por ter gasto R$ 70 em acessórios para a festa. Tinha achado tudo muito caro. No meio de suas contas mentais, para tentar entender como tinha gasto tudo aquilo, tendo comprado pouca coisa, um homem interrompe seus seus pensamentos oferecendo uma Peppa Pig por R$ 35. Uma Peppa que não valia nem R$ 5, tamanhos os seus problemas de acabamento e falta de fidelidade na aparência em relação ao personagem original do desenho. À bem dizer, parecia que ela não tinha sido terminada, tadinha. E minha irmã responde que não quer. Ele insiste e ela pede para ver nas suas mãos. Chega a ter pena da bichinha, de tão tortinha que ela era. Devolve e diz que não queria porque só tinha cartão. O vendedor de rua, que trabalhava no farol, prontamente responde que isso não era problema e corre na banca de jornais para pegar a máquina de cartão de crédito. Minha irmã chocada, tenta ainda dizer que esta muito caro. E ele, empenhado demais, oferece R$ 5 de desconto. Ela finalmente cede, passa o cartão e gasta R$ 30 na bichinha torta, mal acabada, que nem sequer lembra a personagem do desenho que sua filha adora. A conta do dia, que já estava cara, chegou em R$ 100. Ele chegou em casa e foi costurar partes rasgadas do bichinho para tentar fazer seu investimento fazer um pouco mais de sentido. Será que ela comprou porque lá no fundo ela queria? Não! Ela comprou porque não teve coragem de falar simplesmente “não, muito obrigada”, para um completo desconhecido, que tinha solução para todas as desculpas que ela tentava dar para não comprar o bichinho. Sorte do desconhecido nesse caso.

Acredito que acumulamos coisas e mais coisas em nossa casa que foram compradas por dificuldade de dizermos não. O mundo vai ficando cada vez mais povoado com crianças mimadas que não ouvem “não” quando é necessário. Crianças que vão se tornar adultos que não aprenderam o significado do “não”. Sigo vendo pessoas sobrecarregadas no trabalho porque tem medo de dizer “não”, achando que pode ser um sinal de falta de capacidade, entregando coisas pela metade ou com pouca qualidade. Vejo pessoas revoltadas com amigos que não reconhecem seu valor. Essas coisas me fazem pensar, que nos levamos à situações que não nos fazem bem, que nos causam angústia, por nossa própria culpa.

O “não” precisa ser explicado. Aprendemos desde pequenos (ou ensinamos) que “porque não, não é resposta”! O não, bem dito, justificado e explicado é saudável, tanto para quem pede, quanto para quem responde. Coloca tudo no seu devido lugar.

Quando o nosso coração diz “não”, devemos verbalizar isso. Que vale para não nos sobrecarregarmos sem necessidade no nosso dia à dia, não comprometermos a qualidade na entrega do nosso trabalho, não cedermos aos caprichos dos filhos que estarão sendo mal educados por nós pais, que somos quem mais queremos o bem deles, não termos a sensação que estamos nos doando mais que outro, comprometendo a qualidade das nossas relações. Enfim, colocando as coisas no lugar.

Além do “não” diário, temos que cuidar do “não” mais estrutural. Aquele “não” que se relaciona às situações de vida. Não quero mais me relacionar com essa pessoa, não quero mais trabalhar com isso, não quero mais viver aqui, ou seja, “nãos” que demandam muita coragem. Os “nãos” mais difíceis que existem. Porque se é difícil dizer “não” para os outros, é ainda mais difícil dizer “não” para a gente mesmo.

A conclusão é que o “não” é libertador, ele educa, ele ajuda quem pede a se estruturar mais. O não é a certeza, enquanto o sim representa novas possibilidades. Quem nunca disse: “bom o “não” eu já tenho”? Saber dizer não, significa que nossa vida vai ser repleta de significados e nos dá a certeza de que estamos indo no caminho certo. O não bem justificado nos dá a certeza do sim. E lá na frente, quando nos perguntarem porque disso ou daquilo, poderemos dizer com o coração tranquilo, porque sim!

Coração

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Sabrina Almeida

Sou mãe, filha, esposa, mulher, amiga, confidente, conselheira. Sonhadora, determinada e realizadora. Organizada, mas com um que de caótica. Apaixonada pela vida e pelas pessoas. Intensa!

Publicitaria, trabalho desenvolvendo produtos e marcas para deixar as pessoas mais bonitas e felizes.

Escrevo porque amo escrever. Minha cabeça está sempre repleta de sonhos e devaneios. Sigo sempre meu coração. Hoje penso mais antes de tomar uma decisão. Encontrei a FELICIDADE, assim todinha maiuscula, nas coisas simples da vida. E escrever é uma delas.

Enquanto as pessoas vão para a academia, fazem trilhas, tocam instrumentos musicais, cozinham… Eu escrevo! Esse é o meu hobbie… Escrevo para traduzir o que está no meu coração, sem regras, métodos ou filtros. Escrevo porque me inspira e me faz feliz.

Acredito que é simples ser feliz e que para isso é preciso uma boa dose de coragem, de sorte e de sonhos e devaneios.

Quando eu decidi escrever, uma pessoa me perguntou: “quem te garante que as pessoas vão se interessar pelo que você escreve?” E a minha resposta é como vou concluir minha apresentação.

Vou escrever para tentar ajudar as pessoas a ver diferentes perspectivas, rir no meio de um dia difícil ou enxergar poesia no dia a dia. E se eu conseguir tocar o coração de pelo menos uma única pessoa, já terá valido à pena.

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2 comentários

  1. Carla diz:

    Adorei o texto! Não fomos criados para falta não e temos que ensinar nossos filhos esse poder libertador!
    Parabéns. Bj

    1. É isso! Super mamães dizem não de maneira consciente e dessa forma já ajudam a construir um mundo melhor. Bjs

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