Quando eu fui morar com o meu namorado, não nos casamos oficialmente, nem fizemos uma grande festa. A mudança foi feita nos nossos carros. Eu tinha 2 lençóis de casal novos e muitos sonhos na cabeça. É impressionante a quantidade de sonhos e expectativas que cabem dentro do corpo de alguém que esta mudando a vida inteira para viver com alguém.
A gente certamente não sabia muito bem o que estava por vir. Aos poucos fomos conseguindo as nossas coisas. Quanto sacrifício meu Deus. Parecia tão fácil para os nossos pais trocar os eletrodomésticos, sendo que eles tinham um emprego, da mesma forma como eu o meu namorado tínhamos na época. Esse é o primeiro choque de realidade. A gente acredita de verdade, que vai manter o delicioso padrão de vida oferecido pelos nossos pais. Doce ilusão. Aqui começam as renuncias, as escolhas e o perrengue. Com a nova vida, chegam as dívidas, referentes ao básico que qualquer pessoa precisa ter para ter uma casa. Não estou falando de nenhum luxo.
No meio desse turbilhão de mudanças e constatações, nos deparamos com um momento delicioso. Mostrar a casa nova para os nossos grandes amigos. Esse momento é realmente delicioso e de repente, depois de tanta massa, porque no final é só isso que uma recém casada tem animo para cozinhar, e de tanto vinho, porque afinal temos muitos motivos para celebrar, a gente se vê alguns quilos mais gordinha. E o melhor, ele não te ama menos por isso.
A correria do dia a dia, nos distancia daquele que dorme todos os dias ao nosso lado e de repente nos vemos passando dias em silencio na hora das refeições para poupar o outro dos nossos problemas ou das nossas chatices.
Daí um belo dia você se vê infeliz com a sua carreira, mas tem uma enorme responsabilidade financeira, logo a felicidade não é sua prioridade naquele momento. Então resolve deixar para lá e ser infeliz por tempo indeterminado para poder pagar as 10 prestações da cozinha nova. Nesse momento, o casamento começa a fazer sentido. Durante o jantar, você comenta que os dias estão cada vez mais difíceis e que ir trabalhar todo dia tem sido um enorme sacrifico, porque ele insiste em saber o que está acontecendo. Nesse momento você percebe que o outro te conhece como ninguém. Mesmo no silencio, ele é capaz de saber que não está tudo bem. E nesse momento o inesperado acontece. Ele diz para você pedir demissão, sua felicidade deveria ser prioridade. E finaliza dizendo: Nós daremos um jeito. E nesse momento você percebe o porquê escolheu ele. Porque está do seu lado para o que der e vier. Porque ele se importa de fato com a sua felicidade.
E quando as coisas estão mais tranquilas, você mudou de emprego, foi promovida, as contas de toda a nova infraestrutura estão pagas, vocês conseguem ousar pensando em férias. Gastos com supérfluos. Fazem uma super viagem ao paraíso, comem nos melhores restaurantes. Começam a viver uma vida com mais prazer. Mas mesmo apesar de todo o prazer, algo parece estar faltando.
E de repente vocês estão falando sobre ter filhos. Porque afinal vocês 2 não aguentam muito tempo na zona de conforto. E os amigos começam a ter filhos, criando sem querer uma pressão para que você comece logo a pensar nisso.
E aí vocês começam a considerar muito a possibilidade e resolvem que vocês querem casar no papel, fazer um festa, uma viagem inesquecível, antes que os filhos venham. E mais um monte de dinheiro é gasto. E com a preparação da festa um monte de discussão boba. “Isso é muito fútil, não vamos gastar dinheiro com isso!” Ou “para que flores?” Ou “Não quero que você convide esse galinha, ele nunca foi seu amigo de verdade!” Ou seja, ela se metendo na forma dele se relacionar com seus amigos e ele subestimando a importância das flores para que o tão sonhado momento seja perfeito. Eles se acertam. Porque se amam. Superam as besteiras. E se casam. Vão para o paraíso e parecem um casal invencível onde nada será capaz de separa-los. E seguem tão felizes com a festa e as fotos, que ficam recomendando festas de casamento para todo mundo.
E na volta, engravidam antes do esperado, ou vem 2 bebês ao invés daquele único planejado. E quanto estresse surge entre aquele casal que parecia tão invencível, alguns meses antes, só porque nem tudo saiu como o planejado. Mas aí que a mágica volta a acontecer. No meio do turbilhão de adrenalina e desespero quando vocês descobrem que serão 2, e não 1 bebê como o planejado, ele mais uma vez te surpreende te dizendo a coisa mais linda que ele poderia dizer: Vieram 2, porque era muito amor na hora que fizemos eles. A gente vai saber o que fazer. E como um oásis no meio do deserto, aquele homem faz você acreditar que tudo vai dar certo e que você é a pessoa mais abençoada do universo.
Quando os filhos nascem ele assume o papel dele, monta berço, carrega peso, coloca as cadeirinhas no carro, participa de corpo e alma daquele nascimento e você começa se re-apaixonar por ele quando ele fala sobre o futuro com os bebês, chora ao olhar para eles em silencio ou troca a fralda com maestria e muito carinho. E aí, no meio da bomba hormonal, você cai de amor mais uma vez por aquele homem, que por alguns instantes você teve certeza que nunca mais ia querer ver na frente.
Os filhos vão crescendo, a vida passa por perrengues, um perde o emprego, o outro não pode pensar muito em si mesmo tendo que trabalhar de qualquer maneira, morre alguém importante… enfim as coisas da vida, que nos abalam para sempre. E ele está lá. Porque afinal, ele sempre está lá.
Você começa a desejar mais da vida, quer escrever, fazer diferença positiva no mundo e tem mil ideias empreendedoras. E nessa hora ele continua lá, com ouvidos atentos dando asas à toda a sua imaginação. Mais uma vez seu coração pulsa por ele. Por aquele homem que apoia, de verdade até os seus devaneios.
Claro que tem fases horrorosas. Aquela briga por divergência de valores, em que vocês simplesmente não se entendem e quase se odeiam. Que faz com em que vocês tenham certeza de que agora não dá mais. Você pensa se está mesmo fazendo a coisa certa ao ficar casado. Se não seria melhor para os filhos os pais separados, mas em harmonia. Aí nos damos conta, que não podemos descartar o nosso amor, a nossa relação, no primeiro sinal sério de dificuldade. Afinal, o amor não é descartável.
E aí a fase ruim passa e você consegue tomar um banho quente e demorado depois de um dia difícil, porque ele está lá, mesmo com todas as dificuldades e necessidades dele, para ficar com os seus filhos. Ele faz renuncias para você fazer as coisas importantes para você, mesmo que ele não entenda porque afinal são tão importantes, e ainda fica te enviando fotos dos seus filhos fazendo coisas fofas, para você ficar tranquila, porque está tudo bem com eles.
Esses dias, uma grande amiga me perguntou: Como você dá conta? Como consegue trabalhar e ser boa no que faz, criar seus filhos com tanto carinho e ainda fazer todas essas coisas que você faz para você, como escrever no seu blog? E eu pensei em como responder. Ouvindo ela falar, parecia mesmo um grande feito. E aí me dei conta. Eu dou conta de tudo isso, porque eu tenho o Alê.